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MÍDIA MBP - BLOG MBP

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    Nós, integrantes do Coletivo Meninas Black Power, estamos comemorando uma ano de nosso blog este mês de setembro. Pouco a pouco faremos mudanças para celebrarmos ela festa com vocês. Sabemos que nosso meio primário de comunicação é por meio da página, mas existem assuntos mais complexos que são escritos aqui. Aqui podemos falar sem medo de que a rapidez da informações na linha do tempo atrapalhe a comunicação. 
         Como vocês já devem ter percebido, por aqui também fazemos tudo coletivamente, por esta razão não existe apenas uma menina que assina os posts. Todas somos responsáveis por estes textos e ainda contamos com outras meninas que se interessam e de vez em sempre aparecem para compartilhar conosco diversos pontos de vista, dicas e pensamentos. Não podemos deixar de agradecer aos que colaboram para o sucesso do Blog MBP. Vocês são muito importantes! Gratidão!


      Queridas e queridos leitores, este espaço é nosso! Por esta razão a Promoção Cultural Nossa História no Blog MBP quer saber mais sobre você e mais sobre essa relação incrível construída junto com o Blog MBPNos próximos dias falaremos mais sobre outras redes sociais onde também marcamos presença. Fiquem ligadas e ligados! Afrobeijos.








MÍDIA MBP - INSTA MBP

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      Nós amamos novidades e queremos sempre estar em contato com vocês. É pra continuar desse jeito e manter essa relação linda que temos que existe o InstaMBP. Este é nosso lugar de mostrar fotos, marcar as amigas, trazer novas ideias, boas sugestões e tudo mais que posso exaltar nossa beleza e ampliar conhecimentos coletivos. Se vocês sãoafrodivas e andam por aí exatamente dessa forma, nos marquem em suas fotos (@meninasblackpower). Quem sabe vocês não aparecem em nosso Insta e na página? Mas vocês podem dizer: "Só um momento, MBP. Eu não tenho Instagram e nem pretendo. Isso quer dizer que não posso ver as fotos?!" Nós respondemos: nããããão, todas podem ver as fotos. O endereço de nossa página por lá é: www.instagram.com/meninasblackpower.

       Vocês perceberão que em nosso perfil sempre lançamos desafios pra movimentar a criatividade de todo mundo e trazer mais inspirações pra vida e pros cabelos. Para comemorar o início da primavera, lançamos o "Setembro Florido" na #missaombp. No próximo mês teremos outro desafio e será ótimo ver a participação de vocês! Também está rolando o look do dia que se chama #hjvoumbp. A cada semana vocês poderão acompanhar o look de uma das meninas da equipe e também podem usar essa hashtag pra que todo mundo possa acompanhar o seu lookNos vemos no próximo post! Afrobeijos!






O BIG CHOP E A PACIÊNCIA

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       Sabemos todos os caminhos pra ter nossos cabelos lindos e saudáveis... mas se fizemos uso de química, todos os caminhos levam ao Big Chop(corte da parte do cabelo que tem procedimentos químicos de alisamento ou relaxamento). Não tem como escapar. Podemos passar pela transição com tranças, protelar ao máximo comTwists, escovar(NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO), mas o dia do corte chega. Meu processo foi esse: 

Relaxamento - Alisamento - Corte

Relaxamento - Alisamento - Corte

Relaxamento - Alisamento - Corte
E percebi que se continuasse assim, um dia nem precisaria mais cortar os cabelos(ficaria careca mesmo!). Ter os cabelos bem curtos não seria novidade pra mim pois já cortei milhares de vezes. Ter os cabelos naturais era um pesadelo(nem refletia muito sobre isso, só repetia que meu cabelo natural era um pesadelo). Comecei com os Twistsenquanto minha raiz crescia. Até então eu não tinha certeza se deixaria meus cabelos naturais. Então vi pela primeira vez que meus cabelos faziam micro-cachinhos lindos. Comecei a curtir meu cabelo, a textura, a cor. Tinha medo dele ainda, mas já começávamos a ser apresentados pouco a pouco!


       Os Twists já não escondiam mais as pontas gigantescamente alisadas e quebradas do meu cabelo. Mergulhei nas tranças: Adorei! Usei por dois meses. E a raiz que aparecia me deixava mais feliz! Saudável, cheia, de um jeito que eu nunca tinha visto(e neste momento eu já tinha certeza que não alisaria mais os cabelos). Mas tranças precisam de manutenção, não podem ser usadas por muito tempo e meus fios, frágeis que são, começaram a reclamar do peso das tranças.





    Tirei as tranças pensando em lavar, hidratar, dar um descanso aos fios e depois trançar de novo. Quando me olhei no espelho, sem tranças, senti necessidade de tirar aquele fios sem vida de cima dos meus cachinhos tão lindos. Cortei sem nem pensar no tamanho que ficaria o cabelo.Apenas cortei e salvei meus cachinhos… esse era o sentimento. Depois do corte, só conseguia pensar que meu cabelo só cresceria. Sem quebrar, sem cair, sem choro.Aos poucos fui tocando meus cabelos e descobrindo como ele é.Fui aprendendo a pentear e hidratar. Fui percebendo que meu discurso combina mais com meu cabelo natural. Depois do corte, aprendi a ter paciência.Percebi todo o processo de autoconhecimento pelo qual passei, e mesmo pensando que minha liberdade é um sonho realizado, sou paciente quando ouço uma crítica negativa ao meu cabelo:tive o meu tempo e respeito o tempo do outro; sou paciente comigo quando minha autoestima fica abalada, pois sei o quanto estamos intoxicadas e intoxicados pelo racismo que nos diz que não somos bonitas e bonitos; Sou paciente - mas não tolero falta de respeito (percebam a diferença)!E estou aproveitando o processo de crescimento dos meus cabelos, curtindo ele curtinho, sem pensar muito em amanhã ou depois: gosto dele hoje, cheio de micro-cachinhos e curtinho!
        Minhas fases para inspirar vocês:






MÍDIA MBP - TWITTER

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      Como sintetizar as ideias? Como nos conectar umas com as outras usando poucas palavras? Este é o nosso desafio. São tantas dicas, tantas informações, tantas coisas que uma crespa precisa falar...
        A identificação é o ponto principal. Em apenas 140 caracteres nós nos desafiamos a passar uma mensagem completa e ainda termos rosto, personalidade e cumplicidade com cada uma de vocês. É tudo isso que tentamos fazer no @mblackpower, nosso Twitter. Lá o contato é pessoal e gira em torno do dia-a-dia de uma de nossas MBPs, com pensamentos, receitas, dicas. Que tal conhecer em 140 caracteres o que se passa na cabeça de uma MBP? Neste mês de outubro conheceremos a mente brilhante da crespíssima Twylla Ferraz.



Veja alguns textos dela por aqui:


     Não esqueçam, hein?! Mais dicas e ideias crespas no https://twitter.com/mblackpower. Esperamos por vocês.





EDUCANDO NOSSOS CRESPINHOS

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Jaciana Melquíades e Matias Melquíades

       Em tempos de luta pela educação, precisamos pensar o papel do educador na sociedade, nos rumos possíveis pra educação formal escolar, mas precisamos pensar também no nosso papel de mães e pais, educadores cotidianos e incentivadores de nossas crianças. Ter um filho não é tarefa simples. Cuidar de uma criança requer dedicação total. Não devemos perder de vista que educar uma criança é formar uma pessoa autônoma. E que em determinado momento da vida, essa pessoa vai gerir suas escolhas, seus caminhos. Educar uma criança é forjar um adulto com o qual o mundo terá que conviver. Parece longe o tempo em que seu bebê será adulto, mas pense que educar é orientar a forma como essa pessoa verá o mundo e se relacionará com ele, e isso leva tempo.
        Pense nos desafios de crescer. Pense nos desafios de ser uma criança negra. Pense em todas as coisas que seu filho terá que aprender ainda. Pense em como todas as coisas que são obvias pra nós, não são pra eles. Calçar os sapatos, desejar bom dia aos vizinhos, gostar de estudar, escovar os dentes. Pense na entrega que devemos ter pra que possamos dar conta dos questionamentos, solicitações, choros, doenças, carências e felicidades dos nossos pequenos! Ser mãe, ser pai, é grande! Requer coragem! Requer entrega!

Marilza Xavier e Juliana Barauna

       Eu sou mãe e sempre penso na forma como estou conduzindo a minha relação com meu filho (um menininho negro lindo). Sempre penso na forma como ele vai se relacionar com o mundo e com ele mesmo. Ele é negro e infelizmente crescerá numa sociedade ainda racista. Ele precisa aprender a amar os cabelos crespos dele, o nariz largo, a mãe e o pai pretos que ele tem, mesmo a sociedade dizendo que são feios os seus traços e sua família.  Acho que compartilho do desejo de muitas mães quando admito que quero que ele seja saudável, forte, autônomo, inteligente, bem sucedido, responsável... feliz.


Dona Penha e Fabiola Oliveira

       Olhando essa lista de desejos, penso também que dá muito trabalho ser isso tudo. E educar essa pessoa que toda mãe e todo pai espera que um filho seja, requer coerência por parte de nós, educadores diários. Só ensinamos educação sendo educados; respeito ensinamos respeitando e autoestima se ensina também com exemplos. Temos que ser espelhos, exemplos, orgulho pras nossas crianças. Temos que dar conta do silêncio coletivo em relação ao racismo que existe. Uma cobrança pesada, eu sei, mas que não podemos recusar! Ser mãe, ser pai, é ter coragem. 



FLORES NA REVISTA RAÇA

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      No dia 09 de outubro as Meninas Black Power marcaram presença nas páginas da Revista Raça. Agradecemos de coração todos e todas que tornaram isto possível. Nossa voz, nossas letras e nossos crespos estão sendo mostrados, e queremos que isso aconteça cada dia mais. Já conferiu a revista? Corra para a banca mais próxima, não deixe para amanhã! Veja algumas fotos do making of abaixo e também em nossa página, Meninas Black Power.

Ficha técnica:

Locação: Ateliê Colares D'Odarah 

Idealizadora: Ingrid da Matta 

Direção: Emanuele Sanuto 

Produção executiva: Tainá Almeida

Styling: Fabíola Oliveira 

Fotografia: Augusto Baptista 

Making of: Kelly Melchiades 

Make: Dannyelle Soares 

Modelos: 

Natália Regina

Ingrid da Matta

Jaciana Melquiades

Leandro Melquiades

Matias Melquiades

Jessyca Liris

Fabíola Oliveira

Raycauan Benthroldo. 



Realização: 
Meninas Black Power














COISA NOSSA - MC SOFFIA

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       Ela é paulistana, tem 9 anos e manda muito bem no microfone. O nome dela é Soffia, mais conhecida como MC Soffia. Essa menina cheia de estilo e atitude vem ganhando espaço e respeito no mundo do Hip Hop. Soffia começou a cantar com 7 anos de idade, aborda diversos temas em suas letras. Ela gosta de falar sobre skate, o dia a dia na escola e estilo, é claro. Soffia tem um belo cabelo natural, outro tema de suas canções. Essa menina "zica", é um grande exemplo de que o crespo é lindo e que a sua beleza deve ser valorizada desde sempre.


MBP:Com quantos anos você começou a cantar?

Mc Soffia:Comecei aos 7 anos.

MBP:Quais são suas referências musicais?

Mc Soffia:Carol Conka, Willow Smith, Flora Matos, Emicida, Criolo, Racionais, Dexter.


MBP: Qual a sua rotina diária?

Mc Soffia: Acordo bem cedo vou para escola, faço o planejamento (porque lá a gente planeja nossas atividades e matérias). Fico o dia todo lá, depois eu volto pra casa.


MBP:Você tem um estilo lindo... Como monta o seu look? Tem alguma referência na moda ou no estilo hip hop?

Mc Soffia:Eu me visto no meu estilo, mas gosto muito da Willow Smith. As roupas dela são muito legais, mas aqui não tem, então o que eu gosto, coloco.


MBP: O seu cabelo é natural? Se sim, por que você mantém ele assim?

Mc Soffia:Porque é bonito, todo mundo acha legal, me acham bonita e eu também acho, lógico.


MBP:Como é o seu relacionamento com as suas colegas? O que elas acham do seu cabelo?

Mc Soffia: Ahh eu tenho muitas amigas, elas acham bem legal. Tem uma menina com o cabelo igual o meu, ela até gosta de me imitar eu acho legal isso.


MBP:Você acha que as meninas já conquistaram um espaço no Rap (Hip Hop) ou ainda há muito a se fazer?

Mc Soffia:Ainda tem muito que fazer, sim. São poucas meninas no rap e pouca mulher... 


MBP:Você gosta de ler? Qual o tipo de livro te atrai?

Mc Soffia:Sim, gosto dos livros com histórias africanas. As palavras são difíceis eu gosto de aprender elas.


MBP:O que você gosta de fazer no seu tempo livre?

Mc Soffia:Brincar com meus amigos, passear, ir para show de rap, andar de skate...


MBP: Quem são os seus maiores fãs?

Mc Soffia:Minha mãe; minha avó, Lucia Makena... Toda minha família, mas elas são mais.


MBP:Qual o seu maior sonho?

Mc Soffia:Ir pra Disney e ser muito conhecida. 


MBP:Preconceito para você é...

Mc Soffia:Quando você xinga o outro de uma coisa que ele não gosta, ai ele fica triste. 

Abaixo um pouquinho da rima da Soffia:



COM CORAGEM

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       Adoro o Tumblr! Com certeza é responsável por minhas doses diárias de inspiração pra muita coisa na vida. Aconteceu que, numa dessas andanças por lá, topei com um post que juntava várias imagens e logo reconheci neles personalidades que me inspiram. Gosto de arte e mais ainda de gente que me inspira. Não tinha como resistir! Fui conferir a fonte e encontrei Adrian Franks. Aquilas artes que vi fazem parte de Fearless¹, projeto criativo que usa a imagem de gente corajosa pra valer (bem como o nome propõe!).

       É uma reunião linda e colorida de nomes influentes na história negra afro-americana, antigos ou atuais, conhecidos ou não. O que eles possuem em comum: interferiram com coragem na sociedade, transformaram o olhar de pessoas negras ao pensar sobre elas mesmas e sua capacidade, responderam com atitude aos que colocavam (e ainda colocam) limites para a capacidade de um indivíduo negro. Eles ilustram as artes do Adrian, paredes de quem compra elas, mas, acima de tudo, ideias. No pôster de Frederick Douglas (que era escravo, tão ávido por conhecimento que trocava suas refeições por aulas, e um dia se tornou escritor e abolicionista), por exemplo,está escrito "o escravo herói"...  Isso é coragem! Observá-los e pensar no quanto a atitude de bravura deles movimenta a minha vida, me fez imaginar outras faces que poderiam estampar novas artes e a parede das ideias. Podemos reunir milhares de outras histórias com gente de coragem que escolheu se posicionar, mudar o curso dos fatos. Mais que isso: pensei que eu poderia ser a silhueta estampada, mudando o rumo do mundo, promovendo liberdade.

       Fica aqui a inspiração do Adrian, através dessas pessoas lindas. Também fica o meu convite. Quem sabe vocês não escolhem ser figuras relevantes, pensar sobre as questões que ferem e atrapalham a vida de tanta gente ao nosso redor e, finalmente, ilustrar pensamentos libertos de outras pessoas como alguém que transformou a história com coragem e desprendimento? Abaixo vocês conferem o trabalho do Adrian em Fearless. Vale a pena conhecer melhor cada um dos que foram retratados por ele.


James Brown
Marcus Garvey
Janelle Monáe
Nina Simone
Martin Luther King Jr.
Malcom X
J Dilla
Barack Obama
Tupac
Frederick Douglass
Jay-Z
Langston Hughes
Notorious Big
Shirley Chisholm

¹ Fearless, em tradução livre, significa corajoso, destemido.


COISA NOSSA - INGRID SILVA

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GRN Photography - Gustavo Novais
       Não são raros os casos em que, ao perguntamos para uma menina o que ela quer ser quando crescer, a resposta que vem é “uma bailarina!”. Independente da minha vontade de ser uma (e nunca tive o desejo como algumas amigas tiveram), sempre observei atentamente a dança. De um lado desejava ter o corpo magro, ágil, leve e elegante; de outro percebia que é um espaço excludente quando se pensa na quantidade mínima de negros dançando. Sendo raras as meninas que conseguem realizar o sonho, mais raro ainda é realizar o sonho sendo negra... Fato incontestável, minha gente. Basta olhar fotos de companhias famosas e perceberão que não há como desmentir. As desculpas são muitas e vão do "defeituoso" biotipo negro que não se encaixa na dança (já que negros são muito pesados para o ballet) até a cultura negra que não cruza com a leveza eurocêntrica que a atividade exige (afinal, danças africanas são tão brutas, não é?)


       Mas o motivo aqui, pelo menos agora, não é protesto. Recentemente, respondendo mensagens na página do Coletivo, tive o prazer de encontrar Ingrid Silva. O papo era sobre reunir as Meninas em Nova York, mas achei genial conversar com uma bailarina negra. Mais que isso: uma bailarina negra, brasileira, com carreira internacional! Era a raridade falando comigo e eu não podia deixar escapar sem mostrar pra todo mundo. Antes da conversa, quero lembrar de quem tornou meu olhar mais cuidadoso para a questão. Começo com Mercedes Baptista. "Primeira mulher negra a passar no exigente concurso e fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro", criadora do ballet afro, ajudou a colocar dança clássica no carnaval, colocou o negro brasileiro no ballet (vale a pena assistir o documentário "Balé de Pé no Chão - A Dança Afro de Mercedes Baptista"). Michaela DePrince é uma das surpresas do momento. natural de Serra Leoa, 

órfã por causa da guerra, adotada por um casal americano e alguém que descobriu a vontade de ser bailarina enquanto revirava revistas num orfanato; depois a Misty Copeland, "terceira solista afro-americana na história e a primeira em duas décadas no American Ballet Theatre", que desenvolveu toda técnica em tempo sobrenatural, já que começou os estudos de dança muito tarde diante da maioria. Agora tenho a Ingrid na galeria de inspirações. Segundo as informações que li no site do Dance Theathre of Harlem, onde ela atua agora, a diva começou os estudos de ballet aos 8 anos no Projeto Dançando Para não Dançar, também Escola de Dança Maria Olenewa e de Deborah Colker. Foi para Nova York em 2007 e não parou mais. Currículo lindo, preta linda e com certeza as ricas experiências fazem jus ao que eu esperava encontrar. Agora vocês vão sentir o que foi nosso papo, se inspirar no exemplo e na dança da Ingrid, depois espalhar essa energia por aí. Aproveitem!

Michaela DePrince

Meninas Black Power: Conta pra gente de onde você é?
Ingrid Silva: Eu nasci no Rio de Janeiro, sou carioca da gema.

MBP: Como, onde e quando foi seu primeiro contato com o ballet?

IS: Eu tinha um vizinho que era mestre sala da Mangueira, se chamava Tio Arisio. Ele comentou com a minha mãe sobre uma professora de ballet que havia aberto uma sala e vagas para interessados na Vila Olímpica da Mangueira. Eu já fazia vários esportes e o ballet entrou na minha vida como apenas mais uma atividade. Naquela época eu tinha 8 anos.

MBP: Como era o seu cabelo nesse momento? Como você lidava com ele?
IS: Meu cabelo naquela época era tratado pela minha mãe, em casa. No tempo que se fazia permanente com “bigudinho” pra deixar os cachinhos (na verdade produto químico, que acaba com cabelo da gente). Eu não tinha cabelo comprido o suficiente para fazer uma coque de bailarina de verdade [risos], então comprei um cabelo em forma de “xuxinha” e colocava em volta do meu cabelo preso. Aí conseguia fazer o coque. Foi assim por um bom tempo.



MBP: Agora é a hora da aventura! Como você foi parar nos EUA, como foram os primeiros tempos aí e qual o valor dessa experiência para você?

IS: Quando eu tinha 18 anos, uma professora negra brasileira que recém tinha chegado de Nova York foi dar aula no Projeto Dançando Para Não Dançar. O nome dela era Bethania Gomes, ele havia dançado no Dance Theatre of Harlem, e deu a ideia a Theresa Aguilar, diretora do projeto DPND, que eu fosse fazer audição nesta companhia de ballet americana no verão de 2007. Eu vim para Nova York fazer a audição através do projeto DPND, com a diretora Theresa Aguilar, passei entre 30 candidatos (somente 4 foram escolhidos), retornei em janeiro de 2008, dancei por 4 meses num grupo de pré-profissionais da escola, depois fui escolhida pelo Arthur Mitchell, diretor da companhia, para dançar num grupo jovem que representava a companhia. Se chamava Dance Theatre of Harlem Ensemble. Dancei neste grupo durante 4 anos. Ano passado foi o retorno da Dance Theatre of Harlem Company, que agora tem a direção de Virgínia Johson, um dos maiores ícones da dança clássica na América e uma das primeiras bailarinas negras nos Estados Unidos. A cada dia que passa eu vejo a importância que a minha carreira tem feito na vida de muitas crianças, na vida em geral de quem vem nos assistir nas performances e principalmente na minha vida. Saí do Brasil aos 18 anos para viver um sonho que muitas meninas não têm oportunidade de viver!

MBP: O que é o Dance Theatre of Harlem? Qual é a história?

IS: Que honra dançar em uma companhia que foi fundada em 1969, no Harlem, pelo primeiro bailarino negro que dançou no New York City ballet, Arthur Mitchell! O Dance Theatre of Harlemé conhecido como "a primeira companhia de ballet clássico negra" nos Estados Unidos. A primeira grande companhia de ballet que prioriza dançarinos negros, que agora esta sob a direção de Virgínia Johnson. O Dance Theatre of Harlem tem uma importância de inclusão geral, é uma companhia multirracial, pois estende oportunidades para etnias em geral. Acontece que desde que ballet existe, muitas pessoas acham que negros não são aceitos na dança clássica, por conta de fatores físicos, cor da pele, cultura... Por isso a presença de negros na companhia é mais perceptível, já que há uma abertura muito maior para esses dançarinos. O DTH é uma companhia flexível em todos os sentidos. Nós temos um repertório vasto, tanto clássico quanto contemporâneo, com a missão de promover diversidade no mundo do ballet, e trazer o ballet clássico para todos os níveis sociais.



Do Instagram dela.
MBP: Como é sua rotina enquanto bailarina?

IS: Bom, é regrada de certa forma. Eu acordo todo dia as 08h30, minha aula geralmente começa 10 horas. Chego ao trabalho às 9 horas para me preparar para aula, que consiste em fazer exercícios e preparar o corpo pro dia de trabalho, que consiste em 6 horas de ensaio e 1 hora de folga. Meu dia geralmente termina por volta das 7 horas da noite. É assim o decorrer do ano, dependendo do nosso repertório de dança... Mas eu também tenho vida social! Acredite. [risos] A gente tem que arrumar tempo pra tudo.





MBP: Com certeza! E como é a “pressão psicológica” de ser uma bailarina? 

IS: Olha, na verdade a pressão psicológica é bem forte. Você tem que ser bem seguro do que quer. Acho que "foco"é a palavra chave. Pro bailarino é muito difícil aceitar um erro. Quando é cometido, ele se julga o tempo inteiro, e a vida toda dança de frente pra um espelho. Acho que sempre tentar e nunca desistir é essencial. Ballet não é fácil e não é pra qualquer um. De certa forma você tem que ser persistente em todo dos sentidos e jamais desistir!



MBP: Conta a história de como decidiu voltar ao cabelo natural?

Depois do BC, divando no salão Miss Jessie's
IS: Há 2 anos atrás eu estava conversando com meu namorado, quando, por uma ideia dele, concluímos que eu ficaria muito mais bonita com cabelo natural do que com cabelo liso. Além disso, a agressão que o produto químico fazia ao meu cabelo era péssima. Eu ia ao salão todo mês, pagava 80 dólares pra ter o cabelo liso por 1 mês, e todo mês era a mesma coisa. Um dia cansei, não achei que isso era mais pra min, e entrei no processo de transição, que foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. É quando seu cabelo não está nem natural e nem sem o produto químico. A transição durou um tempo, decidi um belo dia ir a um salão chamado Miss Jessie’s, especializado em cabelos naturais, e aí tive o big chop, como dizem. Adeus cabelo com produtos químicos e que seja bem-vindo um cabelo natural e saudável.


MBP: Incrível! E como foi a reação das pessoas ao redor? Muitas declarações de reprovação ou dúvida sobre ser uma bailarina com cabelo naturalmente crespo?

IS: Olha, a reação de algumas pessoas ao meu redor não foi boa. Muitos não gostaram, incluindo minha mãe. Outros simplesmente amaram. Com minha mãe, por ela estar no Brasil e aí quase não há pessoas que usam cabelos naturais, dá até pra entender. Todo mundo acha que se você não for ao Beleza Natural ou não usar permanente, seu cabelo é duro! Este é um termo erradíssimo, mal usado e de péssimo gosto. Por favor, mudem de conceito. Cabelo natural é lindo, dá trabalho (como qualquer outro cabelo), mas é seu. Não use o cabelo natural por estar na moda e sim para construir sua própria identidade. Hoje em dia a minha mãe, que não entendia sobre o cabelo natural, adora e ela mesma mudou e aceitou o cabelo natural através da minha iniciativa. Achei isso super importante e legal. Quando eu fui ao Brasil, em agosto desse ano, estava no metrô e percebi que muitas pessoas estavam me olhando, tentando entender o meu cabelo [risos]. Eu achei engraçado e até quase perguntei pra uma senhora o motivo, mas depois pensei bem e achei melhor não. Na verdade meu cabelo é comum como qualquer outro e as pessoas tem que ser mais abertas mentalmente e mudar seus conceitos!



MBP:Quais produtos você usa aí e como é o acesso aos produtos e serviços para cabelos naturalmente crespos?

IS: Como fiz minha transição e todo o processo no salão Miss Jessie’s, uso os produtos de lá. São ótimos, mas um pouco caros. Aqui é bem mais fácil achar qualquer produto para cabelo natural. O mercado é bastante vasto e tem variedades para todos os tipos. Eu uso Baby Butter Cream ou Curly Merengue, cremes de pentear da Miss Jessie’s. Uso Cantu Shea Buttercom bastante azeite de oliva misturado como creme de hidratação. Para desembaraçar o cabelo debaixo do chuveiro, uso o Monoi Repair Mask, da Carol's Daughter. Também uso Super Slip Sudsy Shampoo e Jelly Software Curls, da Miss Jessie’s, como se fosse um gel uso quando faço coque de ballet e para finalizar com um brilho.




Ela é uma fofa e fotografou os produtos, gente!

MBP:Como é a relação das mulheres negras com o próprio cabelo aí? Há muitas assumindo o cabelo natural? Como elas se comportam?

IS: Acho que de uns tempos pra cá muitas mulheres começaram assumir seu cabelo natural. Elas têm blogs, sites e Instagram com todas as informações para quem faz transição, sobre que tipos de produtos usar, penteados. Há até grupos de pessoas que fazem reuniões e trocam ideias de como cuidar do cabelo...



MBP: Quais seus planos pro futuro?

IS: Na verdade vivo um dia de cada vez. Planos pro futuro ainda não tenho. Só quero dançar bastante... Também penso em estudar psicologia na área da dança. Acho muito importante.



MBP: Queria saber que dicas você daria para mães negras que tenham filhas que querem ser bailarinas e para as que já tenham filhas no ballet

IS: Acho que o mais importante é que a criança aproveite a fase de ser criança e que ela tenha o ballet como uma atividade e não profissão desde de cedo. Assim caberá a ela decidir se é disso que ela gosta ou não. Acho que o incentivo é super importante vindo da família. Sempre apoiar os sonhos dos filhos, por mais difíceis que sejam. Balleté bem difícil, então o apoio da família e disciplina é essencial.



MBP: Sua palavra de incentivo enquanto mulher negra, natural, bem sucedida e brilhante para mulheres negras brasileiras.
IS: Desde de que mundo é mundo, nós mulheres aprendemos a cozinhar, lavar, passar, ter filhos, cuidar da casa e ser sustentadas pelos maridos. Só que os anos passaram e nós queremos igualdade. Temos que ser independentes, confiantes, com bastante disciplina e foco. Existirão muito impedimentos no caminho que vão tentar desviar da meta, mas aí entra sua responsabilidade de lutar pelo que quer e acreditar em você mesma. Não deixe se abalar pela cor da sua pele ou pelo seu cabelo. Você é guerreira e poderosa.
       Abaixo vocês podem ver um vídeo especial feito pela Ingrid, ensinando como fazer o coque de bailarina num cabelo crespo natural, outras fotos (lindas!).

                                      


No anúncio, Ashley, também bailarina da companhia

Meninas da escola. Fonte: DTH

Arthur Mitchell, fundador da DTH, Fonte: DTH 


Foto: GRN Photography - Gustavo Novais


Foto: Ingrid


Foto: GRN photography - Gustavo Novais


Foto: GRN Photography - Gustavo Novais


Foto: GRN Photography - Gustavo Novais


VOLUME DEMAIS?!

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       Volume demais, que causa problemas demais... Depois de um tempo sem escrever, resolvi partir de uma polêmica que aconteceu em um dos diálogos de nossa equipe MBP RJ.  Conversávamos sobre a dificuldade que as pessoas têm ao olhar nossos cabelos crespos e cacheados sem que haja aquele pensamento básico de que "ele está bagunçado". Compreende-se por cabelo crespo e cacheado um tipo de folículo capilar mais volumoso devido seu peso e forma, que pode ser um cacho mais delineado ou mais achatado, o estilo molinha (aqueles cachinhos pequenos que não alcança cumprimento na mesma facilidade). 
     Com essa múltipla característica que cada mulher acaba desenvolvendo, foram formados hábitos diferentes para cuidar e manter nossos cabelos de acordo com o que chamamos de "arrumado". Jeitos esses que envolvem pentear o cabelo com a mão ou garfos, aplicar umidificadores para definir melhor o cacho, usar mousses e géis para dar mais movimento (e volume também, por que não?), várias receitas caseiras e etc. Percebe-se que o problema da nossa cabeleira não está sendo com os seus cuidados mas a aceitação da sua naturalidade pelas pessoas que possuem (ou não) seus cabelos "de nascimento". Elas acabam querendo nos julgar e discriminar dentro de escolas, hospitais, restaurantes, multiempresas, escritórios de direito, administração e engenharia, locais onde passam as diversas classes sociais, e que acabam infelizmente se adequando a um padrão que não condiz com a realidade em torno dessas estruturas físicas. 
       Nas ruas que formam nossos bairros, cidades, estados, podemos notar que o brasileiro, definitivamente, não nasceu para ter seus cabelos esticados, e sim para ser aceito da forma que foi concebido. Pena que esse tipo de compreensão ainda está longe de ser discutida de forma transparente e pública dentro dos espaços de trabalho e formação, mas é através de textos como o que escrevo aqui que trazemos a questão para repensar a forma com a qual julgamos e condenamos crianças, jovens, homens e mulheres negras por estarem se libertando de um pensamento colonizador e dominante, e que quando escolhem ser elas/eles mesmas (os), acabam fraquejando. Esse texto não é contra você que alisa, que usa permanentes ou até mesmo raspa a cabeça com medo de que o que é seu seja exposto... É mais um desabafo e até uma forma de refletir sobre como estamos julgando pessoas, tanto próximas quanto distantes, sem saber a história que há por detrás de seus cabelos.
       Te dedico, Jessyca Liris. E parabéns por se tornar essa mulher liberta, espero que você não seja alvo de pontas afiadas, mas espelho de consumo para muitas mulheres que almejam sua coragem.




TOP 10 MBP

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       Meninas! Toda semana vamos publicar uma lista com 10 indicações sobre diversos temas pra inspirar qualquer Menina Black Power. Começamos com 10 produtos que podem ser sucesso em qualquer uma de nós. Eles foram eleitos pela Cintia, MBP da equipe Rio. Acompanhem abaixo, inspirem-se e podem enviar suas dicas pra blogmbp@gmail.com.





1 - Leave-in Noturno Geleia Real - Bioderm

Promete hidratação durante a noite e cumpre. 

2 - Creme de Hidratação Fusão da natureza - Pantene 
Hidratação em 5 minutos, durante o banho.

3 - Esfoliante Corporal Nivea
Para ser usado durante o banho, alguns minutos e pronto, pele lisinha.

4 - Sabonete líquido Protex 
É uma delícia. Deixa a pele limpa, cheirosa e macia.

5 - Hidratante Vasenol Pele Negra 




6 - Demaquilante Nivea
Para manter a pele do rosto saudável, demaquilante é de extrema importância.

7 - Tônico Suave Nivea 
Para complementar a limpeza do rosto.

8 - Protetor solar para o rosto*
Para todo tipo de pele, é recomendável usar. 

9 - Esmaltes Impala
São finos, fáceis de usar. Duas camadas e pronto.

10 - Spray secante para unhas
Para quem pinta a noite, como eu, spray secante é essencial, 10 minutos e nada de unhas borradas.




MBP NA FOLIA - É VERÃO! FILTRO SOLAR! - Por Simoni Moreira


AÇÃO EDUCATIVA MBP - VIGÁRIO GERAL

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No dia 17 de julho oColetivo Meninas Black Power marcou presença em mais uma intervenção. Dessa vez foi junto com a bairro-educadora Daiana Ramos, na E.M Jorge Gouvêa, em Vigário Geral, Rio de Janeiro. Nossa roda de conversas com a turma do 7º ano, que tinha um pensamento bem deturpado de sua imagem, resultou na melhora da autoestima dasalunas e dos alunos que estavam presentes conosco. 
     Começamos nos apresentando, apresentamos a proposta do coletivo e perguntamos sobre o que eles achavam das suas imagens e das nossas. Resultado desse questionamento do exterior para o interior: um quadro repleto de ofensas e palavras que asseguram que cabelos cresposou cacheados ainda são alvo de um dos preconceitos mais prejudiciais a nossa formação básica, o racismo. 
     Muitos associaram seu in natura a cabelo de palha de aço, pixaim, esponja, e não conseguiam enxergar a beleza particular deles. Nós intervimos pedindo para que as crianças escrevessem ou desenhassem como elas se viam no espelho, e isso gerou resultados bem diferentes do que elas nos falaram no início da atividade. Elas queriam expor que o natural não era algo que as tornasse menos, e sim mais, por elas saberem quem eram de verdade, mas faltava algo que as estimulasse a essa prática. Além desse exercício, as meninas e alguns meninos começaram a se interessar em cuidar de seus cabelos, de suas imagens e principalmente de suas formações sociopolíticas e culturais. 
     Foi uma sensação prazerosa responder aos pequenos/pequenas e suas perguntas bombásticas, foi ótimo perceber que essa intervenção, aos nossos olhos, contribuiu um pouquinho, mas que poderá fazer toda diferença para sempre nas vidas deles. Não sei se de efeito imediato, pois não estamos todos os dias lado a lado para fortalecer o pensamento delas, mas acredito que, ao longo do tempo, essa vivência, mesmo que única (até então) tenha dado uma luz, uma brecha para eles compreenderem que esse trabalho é mais que estético, é posicionamento político, cultural, que resgata uma ancestralidade perdida, onde cada família perde sua história por conta de uma cultura imposta, padronizada. 

    É essa nossa meta, nossa ideia, formar cidadãos que saibam de seu passado, organizem e intervenham no presente para que um futuro de qualidade e igualdade seja realmente alcançado.E a mudança não está apenas sobre a responsabilidade da geração que nos sucederá, ela está namão de todos nós, homens negros e mulheres negras, cientes de sua posição e de sua história. Essa ação é mais uma de muitas ações que estarão sendo relatadas aqui. Que nosso exemplo inspire você que nos lê e gere alguma vontade de melhorar o mundo em que vivemos. 






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     Recentemente publiquei um desabafo lá na página. Na ocasião, lembrei de mim e muitas outras que já haviam passado por algo semelhante durante a vida escolar. Posso afirmar: é excelente evoluir, "dar a volta por cima" e desenvolver esse amor incondicional por nós e pelo que somos, mas existem agressões que marcam profundamente e quase sempre lembramos delas. A história que conto, gira em torno da aflição de Damali enquanto acompanhava o sofrimento da irmã mais nova, por conta das declarações de uma racista em formação (e não me digam que "racista"é adjetivo pesado pra uma adolescente que coloca a conversa num nível assim, ok? Ela reproduziu a fala que já conhecemos desde sempre, só que numa versão hightech). Damali escreveu: "... Cheguei em casa e ela estava toda amuada no sofá. Fui perguntar o que estava acontecendo, aí ela me disse que está sendo incomodada por uma garota no colégio por causa do seu cabelo, que a tal garota costuma chamar de "bombril" e derivados. Ela me contava e chorava dizendo que queria ter cabelo liso pra nunca mais ter de passar por isso de novo e me mostrou uma postagem dessa garota no twitter..." A situação foi piorando e a tal menina racista não demonstrou culpa, remorso, arrependimento ou o mínimo de temor diante da proporção gigantesca que a situação tomou (já que, felizmente, muitas pessoas compreenderam que era gravíssimo!). 
       Pensamos no que pra oferecer encorajamento pra enfrentar situações tão desconfortáveis. Nada melhor que exemplo! Por isso convidamos três Meninas Black Power que são inspiração pra nós. Gabi, que atualmente arrasa nos episódios de "Tá Bom Pra Você?"; Lorena, que sempre dá uma força lá na página; Luiza, que já é referência de resistência e mobilização do bem na escola dela. Elas estão no ensino fundamental, vivendo a adolescência e vão compartilhar vivências numa conversa super MBP. Ah! Antes de ir ao que interessa, vale lembrar que racismo não é bullying. Todo preconceito é ruim, mas é fato que racismo está pra além de um preconceito qualquer. Agora sim, a parte boa. Que a experiência dessas rainhas ajude toda Menina Black Power que estiver precisando de força!

MBP -Olá, Meninas! Vamos começar com as apresentações? Como vocês se chamam, quais as idades e em que série estão?
Gabriela - Gabriela Dias, 14 anos, oitavo ano do ensino fundamental.
Lorena - 
Meu nome é Lorena, tenho 14 anos e também estou no 8
° ano.

Luiza - 
Luiza Santos Morais Cantanhede, 12 anos, 7° ano.


MBP -Ótimo! A gente quer saber como é a família de vocês e como eles se relacionavam com seu cabelo durante a infância. A opinião deles influenciou na maneira como você enxergava o cabelo e o dos outros?
Gabriela - Minha família é super unida e meus pais são muito presentes. Sempre conversamos sobre as questões sociais, principalmente a questão racial, daí a ideia de criar o "Tá Bom Pra Você?". Minha mãe sempre me ensinou a gostar do meu cabelo e isso fez com que eu tivesse orgulho de ser black.

Lorena - 
Bem, minha mãe tem cabelo cacheado mas alisa. Durante minha infância, antes de começar a usar produtos químicos, nunca tive problemas em relação ao meu cabelo, mas as pessoas sempre falavam que ter cabelo crespo era ruim.  
Luiza - Minha mãe sempre me ensinou a aceitar o meu cabelo do jeito que é e nunca ouvir desaforo de ninguém. Uns vão adorar e outros com certeza vão detestar, mas eu faço por mim. Errado é se eu mudar pra agradar.

MBP - As escolas de vocês interferiram nessa relação com o cabelo e beleza de maneira positiva ou negativa? Vocês já passaram por casos de racismo lá ou já viram outras pessoas passando por isso?
Gabriela - Negativa. Creio que toda adolescente negra sofre no ambiente escolar. Eu mesma já pedi para alisar meu cabelo algumas vezes, não por achar bonito cabelo liso,mais para não sofrer discriminação (que às vezes vem dos próprios professores!). Nasci na Venezuela e estudei lá ate os 11 anos de idade. Eu era a única menina negra da minha escola e todas as meninas da minha turma tinham cabelo muito liso! Eu sofria muito. Minha mãe sempre conversava (ou melhor, brigava) com os pais e professores, mas criança aprende o racismo dentro de casal. É muito difícil controlar isso sem a ajuda da sociedade em geral. Também já vi acontecendo com outros várias vezes. Quase sempre a pessoa discriminada ri e leva na brincadeira. Depois, lógico, desiste de deixar o cabelo natural. Até mesmo meninas que usam química molham o cabelo a cada minuto só para reduzir o volume. É horrível!

Lorena - No meu caso interferiu de um jeito ruim, sabe? Depois que comecei a  frequentar a escola, passei a usar ele preso ou com tranças, pois tinha vergonha do meu cabelo. Todo mundo tinha cabelo liso! Nunca  presenciei outras pessoas nessa situação, até porque são poucos que vejo que assumem seus cabelos .

Luiza - Pra falar a verdade minha escola não liga muito para esse tipo de assunto, viu? Eu nunca passei por esse tipo de situação, mas conheço muita gente que já... Vejo quase diariamente. Tenho muitas colegas que sofrem com apelidos preconceituosos por causa do cabelo crespo. Uma delas até chegou a pedir para que a mãe fizesse transferência escolar.


MBP - E as químicas? Já usaram?
Gabriela - Comecei a usar química com 11 e parei aos 13 anos. Eu usava relaxamento para reduzir o volume do meu cabelo. Olhava revistas, programas, e me achava estranha com meu cabelo...

Lorena - Minha avó me levou ao salão com 7 anos. Ela disse que meu cabelo ficaria melhor e mais bonito. Parei de usar química aos 12. Odiava ficar horas e horas no salão... O que me fazia gostar de química era achar que ficaria mais bonita de cabelo liso e que todos iriam achar também.

Luiza - Nunca usei química! Meu cabelo é natural desde sempre. Acho que não sou diferente de ninguém por ser negra e ter cabelos crespos.


MBP - Quantas histórias! O que fez vocês voltarem ao cabelo natural?
Gabriela - Comecei a ver mulheres da minha família deixando o cabelo natural. Minhas primas, tias, as namoradas dos meu primos... Aí comecei a me sentir cafona, sem graça, feia, e me libertei. Estava no meu quarto olhando fotos das mulheres da minha família e me senti horrível! Saí do quarto, fui ao banheiro, peguei a tesoura e falei pra minha mãe: "Corta tudo, pelo amor de Deus!" E olha que eu estava com cabelo enorme. Foi escolha minha e eu sabia que já estava feio. As mulheres da minha família sempre falavam: "Ah, Gabi! Você vai ficar linda com o cabelo black!" Não é que fiquei mesmo? [risos] Me acho linda! 

Lorena - Depois de vários anos usando química e quase ficar careca por conta disso, quando cortei o cabelo e retirei a parte lisa, decidi não fazer mais nada no cabelo. Deixaria como ele é. Antes usei tranças por uns 2 meses e depois não fiz mais nada. Decidi ser quem eu sou.


MBP - Como vocês se relacionam com vocês mesmas agora? Como enxergam seus cabelos, beleza e negritude?
Gabriela - Eu amo meu cabelo e estou me achando muito mais bonita do que antes. Pelo fato de ter cortado e deixado natural, hoje em dia sou muito mais consciente enquanto mulher negra.

Lorena - Hoje em dia, me comparando com as fotos de quando eu tinha cabelo alisado, me acho mais bonita e me sinto ótima com meu cabelo. Sinto que sou eu mesma.

Luiza - Sou linda do jeito que sou. Gosto muito de usar acessórios no cabelo e de chamar atenção com isso.


MBP - Com o cabelo natural e opinião mais afirmativa sobre vocês, como é o círculo de amizades e o convívio social na escola? 
Gabriela - Muito bom! Tenho várias amigas, mas sou a única que usa o cabelo natural. Muitas delas ainda têm aquele medo de tirar a química. Às vezes a própria mãe não deixa tirar a química, né? Conheço meninas que querem parar de alisar, relaxar, mas as mãe não deixam.

Lorena - Sou a única garota com cabelo natural na escola; ou seja, sou alvo de piadas e brincadeiras sem graça em relação ao meu cabelo o tempo todo. Mesmo assim não dou importância.

Luiza - A maioria das minhas amigas usam química, alisamentos mais intensos, mas não me tratam diferente de ninguém.


MBP - E com os meninos? Como é relação? 
Gabriela - Não tenho namorado, mas os meninos da minha sala gostam do meu cabelo e me acham bonita. Mesmo assim percebo que os meninos elogiam as meninas negras, mas preferem sempre ficar com as meninas brancas.

Lorena - Os meninos sempre preferem as garotas dentro do "padrão de beleza". Sempre debocham do meu cabelo, colocam apelidinhos idiotas, mas meu namorado ama meu crespo e me acha linda sendo natural.      

Luiza - Sou muito nova para namorar, mas os meus amigos se dão muito bem comigo e com meu cabelo.






MBP - Meninos... E a escola em geral? Como acontecem as discussões sobre racismo? Acontecem?
Gabriela - Poucas vezes isso aconteceu na minha escola e quando acontece sempre quem aborda o assunto sou eu. Os outros alunos não falam nada. Os professores não gostam de falar sobre a África, aliás. Só na "semana da consciência negra".

Lorena - Na atual não, mas em outras escolas que já estudei os professores sempre promoviam um diálogos sobre racismo. Lembro de um vídeo que meu professor de História passou, um vídeo sobre o racismo*, onde quem era o alvo de racismo era a pessoa branca de cabelo liso.

Luiza - Umas das coisas que mais me revoltam é isso! Nada é dito na minha escola. Nunca houveram palestra e nem diálogos sobre o assunto.


MBP - Estamos quase acabando, mas antes queremos saber as dicas de vocês para alguma menina que esteja enfrentando problemas na escola por causa e características que possui.
Gabriela - Tenho várias! Leiam o livro "Um defeito de cor"**. É da Ana Maria Gonçalves. Também inscreva-se no canal ''Tá Bom Pra Você?'', curtam a página Meninas Black Power e tirem o Alisandro da vida. [risos]

Lorena - Seja você mesma, mesmo que falem mal. Não dê importância para opinião alheia.

Luiza - Não ligue para a opinião dos outros. Apenas seja você mesma.


MBP - Pra acabar, vamos de "pensa rápido". Digam aí, uma mulher negra que inspira vocês.

Gabriela - Kenia Dias, minha mãe.
Lorena - Tina Turner.
Luiza - Renata Morais, minha mãe!


MBP - Produto que mais gostam de usar no crespo.

Gabriela - Linha TRESemmé para cabelos cacheados.
Lorena -Gel, deixa meus cachos mais definidos.
Luiza - Creme de pentear Kanechom.


MBP - Acessório ou penteado que mais gostam.

Gabriela - Gosto de fazer tranças nagô e adoro usar turbante!
Lorena - Laços e tiaras.
Luiza -  Os laços da Lulu e Lili, marca da minha mãe.


MBP - Um momento super especial que já tiveram com o crespo.

Gabriela - Quando cortei o meu cabelo e tirei toda química. Foi muito legal! Minha madrinha ficou a tarde toda cuidando do meu cabelo e minha mãe e minha prima me enfeitaram. Foi uma festa!

BC da Gabi
Lorena -Quando uma moça que estava me atendendo no supermercado elogiou meu cabelo.

Luiza - Toda vez que recebo elogios.


MBP - Ser Meninas Black Power é...

Gabriela - Ser diva.
Lorena - Ser você mesma.
Luiza - Ter paciência e atitude.

Pra rir  se inspirar: 

                         

** Download do livro no link.



DEIXA O MEU CABELO EM PAZ? NEGRITUDE, MASCULINIDADES E CABELOS CRESPOS - PARTE 1

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       A primeira parte do título do presente texto foi retirado de uma canção brega que fez sucesso na voz do cantor Oswaldo Nunes e serviu de trilha sonora para casais dançarem samba-rock nos bailes blacks de São Paulo nos anos 1970. A letra da música remete ao fato de um jovem ter cabelo grande (talvez "black") e isso ser motivo de problemas, confusão e discórdia (ouça a canção AQUI). Contudo, em parte da letra se afirma de forma categórica: "não corto o meu cabelo, de jeito nenhum eu vou cortar". Fui convidado por minhas amigas do Meninas Black Powera escrever sobre a relação entre cabelos crespos e homens negros. Em meu blog pessoal, o NewYorKibe, já abordei o tema dos cabelos crespos a partir da perspectiva da classe e focada nas mulheres (ver AQUI), mas abordar a temática racial sobre o prisma da estética e masculinidade é algo novo para mim.  A discussão é complicada e longa e, assim sendo, optei por dividir a história toda em três partes/posts de maneira a não entendiar o/a leitor/a com um texto muito longo.
        Falar sobre cabelos numa perspectiva de gênero masculina é uma coisa interessante. O cativante do tema vem do fato de homens em geral tenderem não se preocupar tanto com os cabelos quanto as mulheres. Esse fato, que de antemão digo ser uma meia-verdade, tem haver com a representação do gênero masculino. A propósito, é nesse sentido que gênero deve ser entendido nessa pequeno texto, ou seja, uma representação. Explico-me. Gênero, numa perspectiva antropológica e sociológica, é uma ideia construída do ponto de vista histórico, social e simbólico sobre o que vem a ser masculino e/ou feminino dentro da sociedade não tendo necessariamente relação direta com o sexo biológico (ter nascido com um pênis ou vagina). Exemplo: uma transexual pode ser alguém do sexo masculino cuja auto-identificação de gênero é feminina. Levando em conta esse aspecto, gênero é uma categoria bastante flexível onde há performances mais masculinizadas e outras mais feminizadas. Assim sendo, agimos, nos relacionamos e construímos nossos desejos/sentimentos tendo como referências essas representações.
        A representação normativa (aquela que estabelece uma norma ou padrão a ser seguido por todos) que se construiu do gênero feminino coloca ênfase na emotividade e preocupação com aparência e, nesse aspecto, o cabelo é um elemento essencial. No caso masculino aparência é um elemento desprezado ou entendido como menor perante outros como força, virilidade e não demonstração de sentimentos. Quando a aparência é enfatizada no gênero masculino, ela sempre se encontra atrelada a outros aspectos como, por exemplo, força. Daí entende-se a fixação que certos homens tem por um corpo musculoso. Junto a não exibição de sentimentos e uso da violência esses elementos constroem a imagem do homem "durão" visto recorrentemente em papéis interpretados no cinema por artistas como Arnold Schwarzenegger, Silvester Stallone, Chuck Norris, Charles Bronson, Vin Diesel e outros remetendo a uma noção bastante valorizada de masculinidade.
      E já que citei Vin Diesel, reflitamos sobre a negritude desse autor. Segundo consta, esse é um dos assuntos que o consagrado ator de blockbustersfarofas de Hollywood evita comentar embora o mesmo se auto-identifique como "uma pessoa de cor" (palavras dele). Daí vai (ou vem) a pergunta: você se lembra de ter visto alguma foto de Diesel com cabelo? Sim, existem algumas aí na web, mas ele optou de vez pelo look cabelo raspado quando sua calvície ficou mais evidente. Por outro lado, me pergunto se a preferência do ator pelo visual do cabelo raspado por navalha
talvez não remeta também a um certo incômodo com a sua negritude. Isso me lembra em muito também a relação com o cabelo que o jogador de futebol Ronaldo "Fenômeno" teve durante boa parte da sua carreira. A propósito, aqueles que tem memória boa devem se lembrar do episódio de anos atrás no qual Ronaldo, ao ser questionado sobre episódios de racismo nos estádios, se solidarizou aos seus colegas jogadores negros, mas se auto-classificou com "branco".  
       A ideia generalizada de que homens não se preocupam com seus cabelos é, como já disse, uma meia-verdade. Aparência é algo central para ambos os gêneros. Contudo, homens e mulheres negros tem motivos específicos para se preocupar com o cabelo. Entre os séculos XVIII e XIX ocorreu a estruturação do racismo científico europeu que estabelecia hierarquias entre as ditas "raças" que eram entendidas como realidades biológicas distintas e hierarquizadas: brancos europeus seriam superiores a negros, asiáticos e indígenas. A miscigenação era vista como algo negativo e a ser evitado, pois os indivíduos nascidos de relacionamentos inter-raciais incorporariam as características da raça inferior do par. Nesse contexto, determinadas traços fenotípicos como a pele escura, o nariz mais achatado, os lábios grossos e os cabelos crespos tornaram-se símbolos de inferioridade e ausência de beleza. Fácil deduzir que o padrão a que todos os outros grupos raciais deveriam se medir era o do grupo branco europeu. Isso explica em parte a relação de repulsa e incômodo que muitos negro/as tem com seus cabelos crespos, usualmente classificados como "ruins" em detrimento dos "bons" cabelos lisos. 
       No próximo post falarei de algo polêmico: alisamentos. Diferente do que muitos pensam essa não é uma prática exclusiva das mulheres negras. Nós, homens, se não o fazemos hoje, já fizemos algum dia no passado. Até lá. Muita Paz, Muito Amor!


Márcio Macedo, também conhecido como Kibe, é estudante de doutorado em sociologia e escreve no seu blog, NewYorKibe.

CRESPAS SEM CONDICIONAR DOR

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     Ontem assisti o Programa Encontro com Fátima Bernardes, porque o Coletivo do qual tenho a honra de fazer  parte estaria dando uma pinta*. Aliás, elas não deram pinta, elas "deram um pintão". Que maravilha! Quando vi os carões** lindos na tela, fiquei tão emocionada... É tão bom ver o povo preto na tela. Fiquei pensando: "Gente, meu povo é lindo! Elas são diferentes de todo o padrão de beleza que a televisão adora impor... São mais bonitas. Desculpa aí." [risos]
     Nos assuntos, o tempo todo era latente o separatismo, a falta de tato que as pessoas têm de não sabem lidar com a questão do ser humano que é diferente, desde o menino Lucas (e eu que já passei por situação parecida coma dele) até a forma como elas colocavam a ideia na conversa. Me senti contemplada com a fala da Jaci Melquíades, coordenadora da Comissão de Editais, que disse: "Só vou cortar o cabelo de meu filho o dia em que também cortarem  cabelo todas as crianças". Nesse momento a Fátima Bernardes estava com uma cara triste, bochecha tremendo (acho que ela imaginou o cabelo dos filhos dela raspado). Mas algumas pessoas precisam saber, ou não fechar os olhos, que isso é uma violência, que não podemos banalizar. Observei o Matias Melquiades, que com toda a pureza de uma criança respondeu com um "sim" convicto e olhar radiante quando ela pergunta se ele gosta do cabelo da mãe... Foi lindo! Emocionante! (Por outro lado, com uma criança branca não teria essa pergunta feita, não é mesmo? Cof, cof. Seguimos.) Matias Melquiades representou todas as nossas crianças negras e inclusive as que estão dentro de nós. Obrigada, Matias!
      Gostei da fala de todas do Coletivo. Por minha experiência na área, já sabia da pressão em que elas estavam naquele momento, principalmente, sendo ao vivo. Sabia o quanto era desafiador. Sou muito fã de todas, principalmente da Élida Aquino, coordenadora geral, que com toda a sua generosidade criou a possibilidade de nos (re)encontrarmos, de conhecer um pouco mais de cada uma de nós. Tainá Almeida, coordenadora regional, que sempre coerente em suas palavras, se fez presente. Um dia serei igualzinha a ela. Começando pela sua coluna ereta, tipo bailarina [risos].
      Várias coisas me encucaram*** no programa, mas fiquei preocupada com a fala das outras participantes (sim, por que nesse momento, não deram a fala para o Coletivo Meninas Black Power), quando reclamavam do trabalho de escola para casa. Será que elas não conseguem perceber que a educação dos filhos(as) é responsabilidade, principalmente,  da família e depois da escola e comunidade? Elas transferindo a responsabilidade somente para a escola. A falta de sensibilidade em perceber que de repente esse é o momento em que a crianças e adolescentes podem ter o contato com eles (inclusive nós pais aprendemos  muito com eles!).  Quando chego cansada do trabalho e vejo que meu filho tem os trabalhinhos dele, pergunto: “Filho, o que você fez na escola?”  Ele todo feliz, me mostra todos os trabalhos e eu, por algum momento, esqueço de todas as dores do dia-a-dia, e embarco no universo dele, que é sempre maravilhoso. Aprendo a conhecer ainda mais meu filho. Achei lastimável ver que elas, formadoras de opinião, deram esse tipo de depoimento em rede aberta. Para quê? Para colocar a carga da educação dos(as) filhos(as) delas na escola? Lamento. Muitas de nossas mães não podem dar essa atenção para nossas crianças por conta do trabalho com carga horária pesada, das horas e horas em transporte públicos lotados, e elas dão essa declaração? Fiquei pensando se elas fazem isso com os seus filhos. Vocês acham que teriam a sensibilidade de entender nossos filhos? Acho improvável! Sem contar que há a grande possibilidade de que suas empregadas, que estão prestando o serviço, educarem os filhos(as) delas.
      Mas, em cima de uma das falas da Fabíola Oliveira, coordenadora do Grupo de Trabalho Histórico Político, afirmou com poder que não estamos mais no campo da vitimização, inclusive ressaltou o que sempre achei, na verdade. Há um monte de problemas que não são nossos, que eles que arrumam pra nós. É por isso que seguimos educando nossas crianças, incentivamos a lei 10.639/03 que inclui a cultura afro-brasileira nas escolas, com a certeza de construirmos um mundo melhor. Isso depende, prioritariamente, de nós. Parabéns, Coletivo Meninas Black Power! Orgulho de ser!  Presente!


Dicionário informal:

Dando pinta – Aparecendo, faz acontecer.

Carões – Rosto típico de divas.
Encucada – Com um monte de dúvidas.




TOP 10 MBP #2 - BATONS ALARANJADOS

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Do Instagram, com o 06 da Natura
      
      Meninas! Primeiro post de 2014 e já vamos começar aquecendo o blog com um Top 10 arrasante, escrito por dezenas de mãos. O tema hoje são batons alaranjados, uma super aposta pras diversas pigmentações que mulheres negras possuem. Combina muito com esse tempo quente do verão e pode compor diferentes makes, das básicas até as mais trabalhadas. Pensamos nessa listinha depois de publicarmos uma foto lá na página. A ideia era inspirar Meninas que ainda não estão confortáveis com novas cores na maquiagem e, além disso, trocar inspirações fornecidas pelas que já estão se divertindo com os testes. 

Nossa inspiração!

        Foi um sucesso nossa troca! Algumas das indicações foram citadas várias vezes e são elas que ocupam o topo da lista. Acompanhem abaixo os mais queridos e todas as outras opções, ok? Queremos que sirva de inspiração para colocar em prática essa liberdade linda de se colorir sempre. Ainda em tempo: esta que vos fala é uma entusiasta de batons alaranjados  pra vida (assim como a maioria das Meninas do Coletivo) e não dispensa o 06 da Natura, como vocês podem conferir na foto lá em cima. Convoquei Salisa Barbosa e Rosangela José, negras lindíssimas e que arrasam batons da lista, pra inspirarem junto comigo. 

1. Morange  MAC


2. Cor 06 (Coral) – Natura Aquarela
3. Cor 04 (Batom líquido) – Natura Aquarela
4. Sunny Citrus – Mary Kay
5. Cor 59  Vult6. Astral - Natura

7. Mango – Eudora
8. Apricot   Linha Make B., O Boticário
9. Cor M03 – Addcos
10. Coleção Gabriela Mel e Pimenta - Quem disse Berenice? 



O GALHO É DE QUEM?

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         A normalidade está em, no meio de polêmicas racistas, a pessoa branquinha, que paga seus impostos, se vestir debananaSim, claro, é super normal. Até porque, hoje em dia, é super normal ter pessoas fantasiadas nos programas de televisão, é quase uma regra! Como peça central e superior, a pessoa se veste de, pasmem, banana. Sim, claro, isso é normal, mais uma vez. Como alguém pode reclamar se uma pessoa quer se vestir de bananae for "disputada" por macacos? A cena foi perversa, o momento foi perverso. 
      Estefoi um recado a todos aqueles que reclamaram da escolha e mais ainda da explicação desnecessáriaque foi dada. Será que essa apresentação foi arquitetada para que ela estivesse em evidência? Uma propaganda para valorizar o passe dela e que, mais uma vez, fossemos chamados de macacos por não conseguir entender que é"apenas uma música"O mais triste e revoltante é ver os macacos, que a desejam, serem enxotados. Não, eles não são dignos da beleza e superioridade da banana.
      E ainda há quem diga:"parem com essa coisa de raça, somos todos da raça humana". É mesmo verdade? Ou será que ainda estão pensando que nós, negras e negros, estamos com o pensamento estagnado no mesmo processo evolutivo dos primatas. Não, eu não desejo a banana!
* A postagem não contém imagens, pois a autora prefere não ter a referida banana ilustrando o texto.




GLOBELEZA

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Não sou de ver televisão, pois além de sentir a minha inteligência sendo desafiada, me sinto em uma alienação idiota. Vejo um mundo paralelo criado. Um mundo que não vejo nas ruas: um mundo branco em sua maioria, no ápice do seu protagonismo; negros exercendo o seu papel secundário e subserviente, tudo embalado em quadros de humor elitista, onde as mazelas negras são exploradas pra arrancar risos e audiência.

O nosso lugar sempre é demarcado, os acertos e mudanças são discretos e caminham em passo de tartaruga. O lugar da mulher negra na TV brasileira é na cozinha, na senzala, em discretas cotas no elenco e claro, mostrando o seu corpo, sendo “mulata”. Não que eu não legitime a nossa história e não entenda que o samba é nosso. O problema é que o samba é nosso e foi apropriado pela mídia, que define novamente quem vai ficar com qual papel. E aí, é dado o nosso sonhado protagonismo! E ele é nu, sambando. Mais nu do que sambando, pra falar a verdade!
Há pouco tomei conhecimento, que foi eleita, por voto popular a “mulata globeleza”. Vi a vinheta da eleita, um corpo escultural, cheia de brilho e sem samba algum no pé. Fiquei meio surpresa, cheguei a compartilhar nas redes sociais e questionei onde estava o samba ali. Uns concordaram comigo, outros disseram que era culpa da direção, malhamos a emissora e ficamos por aí. Até que surgiu um comentário falando que a Globeleza deveria ter mais bunda. Fiquei estupefata e não acreditei na cobrança. Cheguei a me perguntar: “Mas, meu Deus, como uma pauta perguntando onde estava o samba pode ter um questionamento tão raso e machsita desses?”
Daí percebi que a negra, chamada de mulata, que samba pra fazer a vinheta bonita, é uma vítima. Depois que eu me compadeci, fiquei sabendo que ela ao ser eleita no reality, disse que o sonho de toda mulher negra é ser Globeleza. Senti raiva e pena. E ironicamente, perguntei o que seria de mim, a preta que não sabe sambar e com um biótipo longe do padrão. Ri da ignorância dela, mas tive pena de novo. Pena porque ela pensa como milhares de mulheres e homens negros. Simplesmente, ela só quis o único lugar de protagonismo, que a mídia pode oferecer pra uma mulher negra.
Mais pena fiquei hoje, quando me deparei com “memes” no Facebook, a comparando com o personagem Zé Pequeno, de Cidade de Deus. E o quadro não foi só esse: muitos comentários falando da falta de bunda, falando sobre a falta de peito : “Que ridículo esse peito infantil!”. Falando dos traços grosseiros de seu rosto (Me pergunto que ignorância os traços dela fizeram com esse povo, além de aparecer na TV.). A pergunta que não me calava: “Onde está o samba no pé, gente? Na vinheta e no meio desses comentários?”
O que eu pude constatar, é que a emissora dita ou sabe o que o povo procura e nesse caso não era samba no pé. Constatei também que ser mulher-objeto é péssimo, mas ser mulher-objeto-negra é pior ainda, a negritude incomoda: desde os cabelos (que já fizeram questão de relaxar!) até os traços, que mostram sua ancestralidade. E uma negra precisa ter bunda e peito. O povo clama: Cadê as carnes?
Me pergunto que se dentro do hall de negros na TV, ela tenha similaridade só com o personagem bandido de Cidade de Deus. Seria falta de elenco afrodescendente ou apenas uma forma subliminar que o pseudo humorista teve de dizer o lugar que ele acha que ela tem que ocupar, depois que passar o carnaval?
Fica o questionamento!



DEIXA O MEU CABELO EM PAZ? NEGRITUDE, MASCULINIDADES E CABELOS CRESPOS - PARTE 2

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Enrique La Salle
         Depois de um bom intervalo estou de volta. Vamos continuar nossa conversa sobre cabelos crespos a partir de uma perspectiva masculina. No primeiro post, que pode ser lido AQUI, vimos como há uma percepção generalizada e equivocada que o cabelo em geral, e crespo, em particular, é uma preocupação apenas feminina. Farei hoje uma imersão na temática dos cabelos crespos partindo dos anos 1940 e chegando aos 1990. O pano de fundo para a análise será a cultura popular afro-americana e sua influência no Brasil. 
       Entre os anos 1960 e 1970 o cabelo crespo dos negros foi elevado a símbolo de orgulho racial e resistência por afro-americanos num processo impulsionado por movimentos como o Black Power (Poder Negro) e o Black Panthers Party (Partido dos Panteras Negras). Entretanto, não foi um mudança fácil já que o afro naquele período era visto como um sinalizador de rebeldia e recusa de integração racial, algo à época valorizado e almejado pelas classes média e elites afro-americanas.
         A estética do alisamento ou relaxamento dos cabelos era um procedimento incorporado em boa parte dos negros da diáspora negra. A crítica cultural bell hooks possui um texto muito bonito e interessante descrevendo o papel social do alisamento entre as mulheres negras estadunidenses (leia AQUI). No que diz respeito ao gênero masculino, nunca li nada parecido.  Sim, nós homens alisávamos e ainda alisamos o cabelo apesar desse look estar um pouco ultrapassado nos dias de hoje.
       Dias atrás folheava um catálogo de uma exposição com fotografias da vida do músico de jazz Miles Davis e lá estava ele nos idos dos anos 1940 e 1950 com o cabelo alisado. Malcolm X, em sua época de atividades ilícitas, também alisou. Essa passagem é satirizada pelo cineasta Spike Lee em seu filme sobre a vida do líder negro. X, que naquele período ainda atendida pelo codinome “Red”, está no meio de uma alisamento quando percebe que a água do apartamento havia acabado. Procurando por um lugar para enxaguar o cabelo antes que o produto queimasse seu couro cabeludo, ele enfia a cabeça na privada, único lugar com a água disponível. Nesse mesmo instante a polícia invade o apartamento para prendê-lo.
        Mesmo com as demonstrações de orgulho dos anos 1960 alisar o cabelo não deixou de ser uma prática estranha a homens e mulheres negras nas décadas seguintes. Alguns artistas de renome nunca deixaram de fazê-lo. Um exemplo é o Padrinho do Soul, James Brown. Nos anos 1980, porém, os topetes esticados deixaram de ser tao atraentes e foram substituídos por uma espécie de relaxamento que deixava o cabelo mais leve, encaracolado e com volume. Um visual similar ao cantor Lionel Ritchie no vídeo da canção All Night Long de 1983.
        Um filme que imortalizou uma sátira a esse tipo de cabelo foi Coming to America (Um Príncipe em Nova York), de 1988. O elenco contava com Eddie  Murphy, no papel principal,  Arsenio Hall, Samuel L. Jackson, Cuba Gooding Jr. e Enriq La Salle (foto de abertura do post). Esse último interpretava o papel de Darryl Jenks, namorado de Lisa McDowell (Shari Headley) e filho de um empresário que produz um creme umidificador, o Soul Glo (imagem abaixo). O cabelo de La Salle e o umidificador são alvos de constantes piadas durante todo o filme (assista um trecho divertido AQUI). Esse estilo de cabelo permaneceria até o início dos anos 1990 como um look bastante aprazível para nós homens negros. Basta dar uma olhada para os cantores de soul e  R&B desse período ou lembrar do visual de Ice Cube no clássico Boyz N The Hood, dirigido por John Singleton em 1991 (veja o trailer do filme AQUI).

Comercial Soul Glo
         No Brasil, a história não foi muito diferente. Diga-se pelos inúmeros produtos disponíveis no mercado desde a década de 60 como Henê Marú, Alisabel, Nivea e o amaldiçoado Jennifer Black, que teve seu momento de glória no início dos anos 1990.  A propósito, o JB foi responsável nessa época por deixar meus cabelos e os de vários patrícios secos, quebradiços, sem vida e vermelhos sem contar a possibilidade de surgimento de feridas em decorrência de queimaduras causadas pelo produto. Mas a década de 90 não foi apenas de desgraça para nossos cabelos.
          Em 1990, a gravadora Zimbabwe  lançou o álbum Holocausto Urbano do grupo de rap paulistano Racionais MC’s. Para além do conteúdo político das letras dos raps de Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, que versavam sobre violência policial, racismo e outras mazelas sociais, chamava atenção a estética dos rapazes. Na foto de capa do LP todos tinham os cabelos raspados e se vestiam de preto. Os MC’s dos Racionais seguiam uma tendência que já havia se popularizado entre alguns artistas de rap e atletas afro-americanos daquele período, principalmente jogadores de basquete como Charles Barkley, Magic Johnson e Michael Jordan. Mas o uso de cabelos raspados ainda era tabu e algo estigmatizado no Brasil uma vez que ele estava associado à instituições de internamento penal e/ou psiquiátrico.
        A popularidade dos cabelos negros naturais e sem alisamento entre jovens nos Estados Unidos estava associado a ascensão de grupos de rap mais afrocêntricos como A Tribe Called Quest, Jungle Brothers, X Clan, Arrested Development e outros que se vinculavam ao nacionalismo negro como Public Enemy. Os penteados variavam entre as versões negras do flat top, as falhas e entradas feitas com navalha, desenhos e inscrições de nomes e letras no cabelo também produzidos com navalha além dos ainda bastante estigmatizados dreadlocks.

Flat top no rapper Big Daddy Kane (sentado)
         No Brasil, porém, o que mais se popularizou nos anos 1990 foi o cabelo raspado. Algum tempo depois as tranças e os dreadlocksforam incoporados no estilo de jovens mais ousados. A expansão do cabelo raspado por aqui foi tamanha que ele passou a ser apreciado por sambistas, jogadores de futebol e outras personalidades negras masculinas que de forma alguma questionavam o status quo como os MC’s dos Racionais. Defendo o argumento que a popularização e aceitação do cabelo raspado entre esse grupo se dava também por “resolver” o “problema” do cabelo crespo para o grupo masculino.
          Ou seja, diferente da aceitação e exibição do cabelo crespo vistas no flat top e, posteriormente, nos dreadlocks e tranças variadas, raspar o cabelo significava retirar a carapinha da visão pública, domá-la através da sua eliminação periódica. E mesmo os argumentos em favor do cabelo raspado que se baseavam em noções de higiene e praticidade alocavam simbolicamente o cabelo crespo no grupo dos cabelos “sujos” ou “problema”. Nesse sentido, raspar a carapinha significava se render a um certo higienismo simbólico que apagava as marcas de inferioridade e estigma trazidas pelo cabelo crespo, algo que já discutimos no primeiro post. Lembrem-se de nossos queridos patrícios famosos Vin Diesel e Ronaldo Fenômeno novamente.
        Prometi ser sucinto, mas não consegui.  Se você agüentou ler o texto até aqui, fico agradecido. Comentários são bem-vindos. Em nosso terceiro e último post da série veremos a situação atual dos cabelos crespos entre nós homens. Haverá uma surpresa também. Até lá! Muita Paz, Muito Amor!

PS: visitem meu blog, o NewYorKibe, clicando AQUI, e curtam a página do mesmo no Facebook AQUI.

DO TRONCO DA SENZALA AO POSTE DO FLAMENGO

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       Fala... Pode falar! Fala só pra mim! Você concorda com ela que eu sei! Você que passou no concurso público, e que saiu do subúrbio pra morar na Zona Sul. Você que conquistou tudo sozinho - meritocracia detectedVocê que se esforçou tanto na universidade, e que depois de formado em Direito ou Medicina irá trabalhar no escritório/consultório da família e perpetuar a espécie dos ricos cidadãos de bem.



       Você que acha que todo mundo é igual diante das oportunidades e que quem cai nas garras do banditismo o fez por safadeza e por uma tendência natural ao crime (tem gente que nasce ruim mesmo, não é, seu inatista?). Você que "lutou" pelos indígenas e que "ama" os quilombolas seria capaz sim de encher esses pretos, que pegam seu iPhone pra trocar por pedra (crack), de pauladas. Eu sei que você que defende a causa das baleias do ártico, do povo Amish e dos pigmeus africanos, sabe que o crime tem cor. E que se parece comigo! O crime tem cabelo crespo. Nariz largo. Lábios grossos. O crime é analfabeto. É pobre. É filho de puta e de alcoólatra. É faminto. É jovem. É preto.


        A "justiça"- aquela que tarda, falha e mata - é rica e branca (um "viva!"à democracia racial brasileira!). Eu sei que você não é racista - você tem até amigos negros (uns 5 que sobreviveram ao ambiente insalubre da Puc-Rio, onde a cada 599 estudantes filhos de desembargador, 1 é preto, fugitivo da bárbara e perversa estatística). Eu sei que você ama Baile Charme, Baile Funk, Maracatu, Jongo, Samba, Rap... na Gávea! Mas eu também sei que o crime é sintoma de um câncer chamado Racismo e que o Estado e a sociedade civil, com suas próprias mãos, matam gente preta! E para você que se ofendeu com o texto, cuidados nos comentários: racismo é crime! Não que você seja racista, claro...

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